Publicações/Mídia - Entrevista com o Professor Dorvalino Refej Cardoso

  Apresento aqui uma entrevista com Dorvalino Refej Cardoso, professor bilíngue da comunidade Kaingang Por Fi situada em São Leopoldo. A entrevista foi realizada no dia 02 de agosto de 2011 pelo bolsista e pesquisador Alex Sandro Maggioni Spindler.



Alex Sandro Maggioni Spindler (P) - O que o senhor achou do caderno especial do Jornal Comunidade da Feevale sobre a comunidade kaingang Por Fi?

Dorvalino Refej (R) - Muito bom... Ele serve de divulgação, para que o mundo saiba que existimos. Ajuda também a organizar as práticas culturais e desenvolver o espaço do índio na sociedade que o percebe.

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – Sobre os envolvidos; professores, bolsistas e a instituição é claro... O que a aldeia acha, até agora?

Dorvalino Refej (R) – É sempre interessante, né? As aulas da Rose são boas, outra metodologia para que os alunos aprendam mais, ensino de outros ângulos. A proposta educacional que a Feevale promove é muito interessante para a comunidade. Acho que os alunos também estão gostando, pois não reclamaram, nem fizeram crítica... (disse rindo)
As aulas não são chatas, eles pedem que continue esse atendimento especial e eu sempre preciso de auxílio, pois existem alunos que não estão acompanhando... Na minha sala, nas aulas, preciso de... como vou dizer... outro professor auxiliador. É uma turma bilíngue, é necessário um professor que domine bem essas metodologias...

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – Quanto à adaptação das histórias... O senhor, que foste o narrador, e a comunidade, que é a quem essencialmente essas lendas pertencem, ficaram satisfeitos em relação ao material produzido?

Dorvalino Refej (R) – Ficaram boas, sim. Elas ficaram bem próximas do concreto, mas cada uma delas sempre depende da interpretação. É um conto muito antigo, uma lenda do início do mundo, vamos dizer na transformação do mundo, então é difícil... Nem toda comunidade leu ainda, irei distribuí-los casa por casa ainda, mas... as pessoas e amigos que viram gostaram. Principalmente os alunos.

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – Desde o início da minha experiência aqui com a comunidade notei que há, apesar problemas que o grupo vive, costumes indígenas ainda vivos, como o artesanato produzido pelas mulheres, o grupo de dança, entre outros. Eu lhe pergunto, como? Como funciona a propagação, a divulgação da cultura, como a do artesanato e da dança na comunidade kaingang?

Dorvalino Refej (R) – Falta organizar mais ainda. Porque quem organiza não é Kamé nem Kairu, quem organiza são os Penh (tipo um secretário), então eles não são Kamé nem Kairu, ele une as duas forças para ter a energia necessária pra lidar com essas questões. É ele também que mexe com remédio, mortos, espíritos, arte, cultura... Essa pessoa tem de estar coberta de forças e energias. Mas nós não temos Pehn, ele tem que passar por uma aprovação do pajé. Tem muitos critérios que ele deve preencher... Como ter dois nomes, seguir um estudo, um dever, já que ele ganha um poder espiritual. Ele é, também, quem consagra os nomes que serão usados na comunidade. O pajé só lida com questões espirituais, lida com a doença e com o remédio.

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – Quanto ao espaço criado recentemente - o blog da comunidade para o projeto - Gostaste  da ideia? Dos textos e das fotos que estão nele?

Dorvalino Refej (R) – Aham, é uma coisa que a gente vem pedindo há muito tempo para as instituições. A gente tem muita coisa interessante para mostrar pro mundo...

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) - Por exemplo...?

Dorvalino Refej (R) - Ensinar as vidas e as outras crenças que existem no planeta. A consideração, o respeito ao próximo e à natureza.

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – E para o futuro da comunidade... O que deseja?

Dorvalino Refej (R) – Pro futuro... Cuidar da natureza para que todos tenham saúde. Para que as vidas tenham mais vida, entende?! Todas elas: animais, água, árvore e o ser humano. Desejo também que as políticas públicas se preocupem mais com os direitos das populações indígenas. E que os povos indígenas cuidem das suas organizações culturais para que continuem vivas...

Alex Sandro Maggioni Spindler (P) – O que mais gostaria de dizer para assim concluirmos a entrevista?

Dorvalino Refej (R) – Só resta agradecer às parcerias que têm se empenhado pelo bem estar da comunidade... Pois, para o desenvolvimento é importante somar nossas forças e refletir sobre elas.

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