Povo Kaingang - Sistema de metades e a sociedade kaingang


Lúcio Roberto Schwingel¹
Dorvalino Refej²


                A sociedade kaingang também está dividida em duas metades: uma kamê e a outra kanhru. Esse sistema surgiu na criação do mundo. Kamê e kanhru-krê no princípio eram espíritos. Eles apareceram para povoar a terra. Primeiro fizeram os animais, as plantas e os astros. Cada qual fez os seus. Kamê fez os seres compridos e riscados (Re téj) e os kanhru fez os redondos e malhados (Re ror). Só depois que criaram todos os seres da natureza, resolveram casar os filhos. Então decidiram que kamê não podia casar com kamê, porque era irmão. De modo que kamê só podia se casar com kanhru-krê, que era a sua outra metade. O mesmo vale para kanhru-krê. Podia casar os filhos somente com os que tinham marca diferente da sua. Por isso, ficou decidido: Quem tem marca diferente é jambré (cunhado) e pode casar entre si. E quem tem marcas iguais é kênkê (irmão). Na natureza também tudo se entende assim.   
E, por fim, acrescentaram ainda outra regra: que os filhos sempre vão pertencer à metade do pai. Isto vale para todos, tanto para Kamê como para Kanhru-krê. Desde pequenos aprendemos dos pais e avós sobre marcas. Primeiro pela histórias. Depois pelo andar com eles no mato. Eles contam e as crianças observam. Tudo se aprende. Cada qual sabendo sua marca fica mais fácil compreender o mundo. E ninguém se perde mais porque o nosso mundo é assim. 
  
 ¹ Mestre em Antropologia Social e assessor do COMIN.
             ² Professor bilíngue numa escola estadual Kaingang.


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