Povo Kaingang - Os Kaingang e sua relação com o meio ambiente


Lúcio Roberto Schwingel¹
Dorvalino Refej²

O presente texto propõe-se a refletir sobre um aspecto considerado fundamental na cultura e sociedade Kaingang, que é seu sistema de metades clânicas, na tentativa de se estabelecer uma aproximação com as Ciências, uma vez que este sistema se constitui como base para a classificação do mundo Kaingang.
As Ciências modernas, que se apresentam numa perspectiva de evolução e progresso, têm classificado a humanidade em diferentes níveis e estágios. Identificaram os conhecimentos científicos produzidos a partir das grandes metrópoles como os de nível mais avançado e desenvolvido da humanidade, em contraposição às culturas indígenas que estariam em um estágio primitivo ou atrasado. Esta visão evolutiva e elitista não se sustentou por ser eurocêntrica, recebendo severas críticas. Apesar disso, em muitos casos, esta linha de pensamento ainda persistente.

Cultura e natureza


                Afirma-se, ainda, com certa frequência, que o “o índio vive de acordo com a natureza”. Na presente abordagem, porém, trabalha-se como o entendimento de que as sociedades indígenas, assim como todas as demais sociedades humanas, vivem de acordo com sua cultura e não de acordo com a natureza. Visto que não existe maneira natural, instintiva ou inata entre os seres humanos de interagir com o meio ambiente. Toda ação humana altera o estado natural dos materiais para melhor aproveitá-los. O que está em questão, portanto, é como cada cultura interage com a natureza e nela imprime as suas marcas (Tassinari, 1995).
                Em vista do acima exposto, a presente abordagem, portanto, assume uma dupla tarefa: a de tentar visualizar elementos da cultura Kaingang que se aproximam ou identificam com a temática das Ciências e contribuir para o enfoque da temática indígena no contexto da educação escolar a partir de novos problemas e desafios.
                Esta abordagem, porém, implica no deslocamento de nosso olhar comum sobre as Ciências como normalmente configuram nossos livros didáticos. Isto é, como uma disciplina que tem seus desdobramentos e especialidades – para um olhar mais abrangente, que se contemple a interação entre as esferas do social, do natural e do sobrenatural. Na sociedade e cultura kaingang, a elaboração do conhecimento não está desconectado do seu lugar vivencial, de seu ambiente sócio-cultural e religioso. As esferas do social, do natural e do sobrenatural se interconectam e se complementam, de modo que não seria possível abordar uma das dimensões sem considerar as demais.
          
      

¹ Mestre em Antropologia Social e assessor do COMIN.
² Professor bilíngue numa escola estadual Kaingang.

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